quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Poeira (Mither Amorim)

A poeira prova o deserto
Do Paraíso profundo
Pousando em móveis antigos
Pedaços de todo mundo

No rastro dos mais velozes
Em cantinhos do porão
A poeira prova o deserto
Imundo da solidão

Mither Amorim
http://alvorecimentos.blogspot.com/


Do Sorriso (de Iana)

Os músculos da face são uma criaturinha disfarçada.
E, quando ela resolve esticar os braços
pra encostar as pontinhas dos dedos
no arco-íris de nossos olhos,
a gente sorri.

Iana Carolina

Morada

Quando eu tava esperando Rudah ficar pronto pra respirar a gente morou numa casa tomada - a casa não era nossa, era dos insetos: principalmente baratas, formigas, lava-cus, gafanhotos, louva-deus, muriçocas, aranhas muitas, e, pelo menos, umas duas ou três esperanças no transcorrer do tempo em que durou nossa estadia.
Mas aí tinha o cacaueiro transgênico e era a delícia nas tardes de verão, com o pé inchado resfriando na água gelada e gostosa da cisterna e Mither compondo Canção de Quintal.
Mas até o cacaueiro tava infestado cupim.
Era feito a partir de 4 mudas.
Nos mudamos depois de 4 meses.
O desenho lixado na parede do quarto sem janelas ficou na minha lembrança e embaixo de umas camadas grosseiras de tinta cor de maionese com catchup e um pouco de mostarda.
Lá que aprendi a cozinhar, apesar de que tinha feito a primeira feijoada no Pontal - na casa anterior sem paredes, sem piso, sem água quente.
Faltava o cacaueiro e a água gelada da cisterna.
Depois dessas duas moradas veio um ano de pôr-do-sol e revoada de periquitos ao lavar roupinhas de bebê no fim de tarde.
A despedida desta última foi festa de 1 aninho - panelaços de doces mexidos e enrolados às pressas durante uma das muitas e freqüentes faltas d'água, ao que se seguiu a casa nova e atual com muita agitação, frenesi e, recentemente, muriçocas - e eu, que pensei ter me livrado delas...
Preocupação com a dengue.
Ficou uns 4 meses sem aparecer o pessoal do combate à dengue e agora, de repente, toda semana tem uma dupla passando por lá, seguida de um fiscal que checa o trabalho do pessoal e, então, este é seguido por um supervisor que vai ver se o fiscal checou direito.
Aí depois aparece de novo o pessoal do combate - vê se não é de apavorar?
Tanto empenho assim só pode ter a ver com epidemia... com o rio seco, diz que mosquito se prolifera mais fácil... será que eles vão fazer ousadia nas pocinhas que ficam entre as pedras pretas do Cachoeira?
Oxe, mas diz que o aedes aegypti só põe ovo em água parada e limpa...
Meu marido disse hoje que já é calamidade pública a falta de chuva, alguém que viu no jornal - não tá nem caindo água em casa e ele teve que negar balde d'água a vizinho.
Chato isso.
Mas dia desses o rio enche, o a abastecimento normaliza e as muriçocas dão uma trégua.
Enquanto isso, trabalho meus saques com a raquete elétrica que Noélia me apresentou. É até bom - desestressa.