domingo, 7 de julho de 2013

Regalo (Brisa Aziz)


Sou de uma estirpe antiga de observadores do tempo.
Estou, sempre que posso, à janela da vida.

Sendo assim, 
demorei a falar:
gozava a vivência das linguagens dos outros.
Preferia chupar o dedo.
Fruir as significâncias que imprimiam ao mundo.
Ler, por outro lado foi ligeiro:
Prazeres maiores que 
ver e ouvir e matutar 
o que disseram de caso pensado 
são poucos.

Matutar...

Meu verbo é de observâncias e de comunhões estreitas.
Gosto mesmo do bololô cadenciado 
de sons e ideias que põem em ritmo a vida.
Gosto da pêga em ouvir minha tia Xana dizendo: 
“Tá escrito na bíblia!
O prazer da vida, minha filha, é comer, beber e se regalar...”
Regalo, desde sempre, uma existência de fruições.
E foi só quando senti
que era hora de abrir a boca,
eu disse, em bom português:
“Aqui se fala essa língua!”