segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Naturalidade (Rui Knopfli)


Europeu, me dizem.
Eivam-me de literatura e doutrina
européias
e europeu me chamam.
Não sei se o que escrevo tem raiz a raiz de algum
pensamento europeu.
É provável ... Não. É certo,
mas africano sou.
Pulsa-me o coração ao ritmo dolente
desta luz e deste quebranto.
Trago no sangue uma amplidão
de coordenadas geográficas e mar Índico.
Rosas não me dizem nada,
caso-me mais à agrura das micaias
e ao silêncio longo e roxo das tardes
com gritos de aves estranhas.
Chamais-me europeu? Pronto, calo-me.
Mas dentro de mim há savanas de aridez
e planuras sem fim
com longos rios langues e sinuosos,
uma fita de fumo vertical,
um negro e uma viola estalando.

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Manzuá no V Festival Multiarte Firmino Rocha

Onde recebeu as premiações de melhor interpretação feminina por suas vocais Laísa Eça e Brisa Aziz e 2º lugar na categoria banda, ambos os prêmios conquistados com a execução de "África", música de autoria da banda.

www.youtube.com/watch?v=aQbVffEXrYc

Prestem atenção especialmente ao poema declamado no início da apresentação - o Poema dos Sentidos, de autoria de Gustavo Felicíssimo.

para assistir mais da MANZUÁ acesse www.youtube.com/bandamanzua

sexta-feira, 2 de julho de 2010

Acerca do amor (Filinto Elísio)


Do amor só digo isto:

o sol adormece ao crepúsculo
no oferecido colo do poente
e nada é tão belo e íntimo,

0 resto é business dos amantes.
Dizê-lo seria fragmentar a lua inteira.

sábado, 5 de junho de 2010

Soneto Antigo (Cecília Meireles)

Responder a perguntas não respondo
Perguntas impossíveis não pergunto.
Só do que sei de mim aos outros conto:
de mim, atravessada pelo mundo.

Toda a minha experiência, o meu estudo,
sou eu mesma que, em solidão paciente,
recolho do que em mim observo e escuto
muda lição, que ninguém mais entende.

O que sou vale mais do que o meu canto.
Apenas em linguagem vou dizendo
caminhos invisíveis por onde ando.

Tudo é secreto e de remoto exemplo.
Todos ouvimos, longe, o apelo do Anjo.
E todos somos pura flor de vento.

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

O Sonho (Adélia Prado)

O sonho encheu a noite
Extravasou pro meu dia
Encheu minha vida
E é dele que eu vou viver
Porque sonho não morre.