terça-feira, 8 de abril de 2014

Sobre Viver Adolescendo (Brisa Aziz)

Cresci em muitos lugares...
Mas essa fase de adolescência, esse crescimento num sentido big, num sentido quase que bio-psicológico - o desfolhar de asas para um futuro voo solo - ah, pois... a adolescência perene, a que dura uns seis ou sete anos, ESSA rolou enquanto eu morava em Foz do Iguaçu, no Paraná.

A tríplice fronteira do Mercosul, a meca de amantes da natureza e dos esportes radicais, a cidade que contém a maior hidrelétrica do mundo, a segunda em população de árabes, chineses e coreanos no Brasil, a última fronteira - a porta de entrada para todos os baratos legais ou não.

Foz tem espaço pra tudo e pra todos - de metaleiros a punks (que lá não se misturam, que é pra não dar treta) - da galera do hardcore e do RAP colando nas pistas de skate aos fãs de U2 politicamente corretos, de pagodeiros a fandangueiros que, sim, usam bombacha mesmo e gostam de fazer de aniversário a casamento no Centro de Tradições Gaúchas, regado a muito churrasco com chimarrão.

A foz é de ideias, de costumes, de línguas, de temperos e tradições.

A lenda local dá conta de dois índios guaranis, Naipi e Tarobá, que irritaram M'Boy, a serpente, que queria Naipi pra ser consagrada somente a ele. Mas os dois apaixonados, é claro, tentaram fugir usando uma canoa... Resultado: a serpente estremeceu por debaixo do rio e por baixo da terra debaixo do rio e abriu a grande fenda que hoje conhecemos por Cataratas do Iguaçu. Isso tudo só pra separar os dois. Naipi ele fez questão de transformar em uma rocha e Tarobá em uma palmeira, ambos à beira do abismo, para serem eternamente fustigados pelas águas.

E então que, tendo crescido cercada de causos e de uma profusão babilônica de ideias e de origens, não sinto como uma grande dificuldade esse lance de sacar os outros, não... isso de perceber os espaços dos outros e ficar de boa. De sacar o meu próprio espaço e os dos meus e defender com faca nos dentes.

Dia desses alguém reproduziu um "bateu de frente é tiro, porrada e bomba"... Lembrei de minha adolescência. Dessa necessidade de ''alta''afirmação. Desse sacode que se dá nos outros pra não se meterem a besta (rs). E eu já fui sangue no olho, viu!

Mas, principalmente depois que "mãezei", o meu M'boy interior adormeceu. Não retorce mais minhas tripas em fúria. "Encontrei Jesus", como se diz por aí.

Mas às vezes... às vezes... rolam uma situações em que eu 'apenas observo'. Observo e respiro fundo sabendo, com a tranquilidade de quem vai chegar aos 70 anos ainda adolescendo, que determinadas situações simplesmente não valem o desgaste.

 Aí me ocorre, internamente: "ah, se essa figura me faz uma dessas uns dez anos atrás...''

Aí eu Rio.
:D

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